Artigo publicado no site Jornal O Globo
No último debate presidencial na TV, segundo a imprensa, a palavra “mulher” e suas variantes foram citadas cem vezes pelos candidatos. Parece haver uma intuição em todos de que é preciso pensar a questão da mulher, especialmente com relação ao mercado de trabalho. Mas os debates ainda não dão a devida ênfase a um desafio fundamental: a mãe que trabalha.
O predomínio das discussões sobre mulheres e mercado de trabalho ainda acontece em cima de dois pontos: equidade salarial entre gêneros e acesso igual a promoções e oportunidades. A equiparação salarial no Brasil é garantida por lei, especificamente o artigo 461 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Em termos estatísticos, a superioridade salarial dos homens com relação às mulheres vem diminuindo no Brasil. Segundo o IBGE, era de 32% em 2012, passou para 25,6% em 2016, chegou a 20% em 2019 e subiu para 22% em 2021. Há uma tendência de queda. Portanto podemos acreditar que a equidade será conquistada em algum momento.
Um tema que precisa ser discutido com muito mais ênfase é a maternidade. O mesmo mercado de trabalho que tem se mostrado mais amigável e inclusivo com mulheres mostra sua face mais preconceituosa e hostil às mães. E isso acontece num momento em que elas não podem se dar ao luxo de se dedicar integralmente à educação dos filhos, como acontecia antigamente. A decisão de trabalhar, para muitas mulheres, hoje não é motivada por desejo de autodesenvolvimento ou realização, mas por necessidade de sobrevivência.
Segundo dados do IBGE, em 2019 a percentagem de lares brasileiros chefiados por mulheres chegou a 48%. No entanto, quando a mulher vai ao mercado de trabalho, encontra algumas barreiras.
Estudos mostram que conciliar trabalho e maternidade ainda é um desafio. O próprio ato da gravidez não é bem-visto por alguns empregadores e colegas de trabalho, que demonstram pouca confiança na capacidade da mulher de retomar suas atividades com a mesma energia e dedicação depois do parto. Afinal, as atividades domésticas e de cuidado com o filho ainda são prioritariamente femininas.
A evolução de nossa sociedade resultou no surgimento de uma nova estrutura familiar no país, e deve seguir-se uma mudança cultural equivalente nas organizações, permitindo às mães criar seus filhos com mais qualidade, sem cair no paternalismo utópico, mas provendo apoio para que trabalhem e exerçam a maternidade com equilíbrio.
Silvina Ramal, mestre em administração de empresas pela PUC-RJ e autora de 11 livros sobre empreendedorismo e gestão, foi professora da PUC-RJ e da FGv