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A posição da mulher no mercado de trabalho e na sociedade

SILVINA RAMAL 06 SETEMBRO 2023 | 4min de leitura

No último debate presidencial, segundo analistas da imprensa, a palavra mulher ou suas variantes foram citadas cem vezes pelos candidatos. Parece haver uma intuição em todos de que é preciso pensar a questão da mulher, especialmente com relação a mercado de trabalho. Mas os debates ainda não dão o devido ênfase a um desafio fundamental: a mãe que trabalha.

O predomínio das discussões sobre mulheres e mercado de trabalho ainda acontece em cima de dois pontos: equidade salarial entre gêneros e acesso igual a promoções e oportunidades de trabalho.

A equiparação salarial no Brasil é garantida por lei. O artigo 461 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) diz que:

“Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, no mesmo estabelecimento empresarial, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade”.

Portanto, não podemos ter dentro de uma mesma empresa um homem e uma mulher que ocupem cargos semelhantes e tenham salários diferentes. Como explicar então que na média os homens ganham mais que as mulheres? Provavelmente, o homem ainda ganhas as promoções dentro da empresa, conquista oportunidades de emprego mais atraentes, e negociações de salário mais vantajosas.

Em termos estatísticos, a superioridade salarial dos homens com relação às mulheres vem diminuindo no Brasil. Segundo dados do IBGE, esta era de 32% em 2012, passou para 25,6% em 2016, chegou a 20% em 2019 e subiu para 22% em 2021. Existe uma tendência de queda, portanto podemos acreditar que a equidade seja conquistada em algum momento do futuro. Alguns fatos reforçam esta tendência. Em primeiro lugar, as mulheres estão se qualificando. Atualmente 19% das mulheres jovens têm ensino superior contra 15% dos homens. Além disso, o perfil do trabalho tem mudado, com processos de produção baseados mais em conhecimento e menos em força, o que poderia beneficiar a contratação de mulheres.

Um tema que precisa ser discutido com muito mais ênfase é a maternidade. O mesmo mercado de trabalho que tem se mostrado mais amigável e inclusivo com mulheres, mostra sua face mais preconceituosa e hostil com as mães. E isso acontece num momento em que estas não podem se dar ao luxo de dedicar-se integralmente à educação dos filhos, como acontecia antigamente. A decisão de trabalhar para muitas mulheres hoje não é motivada por desejo de autodesenvolvimento ou realização, mas por uma necessidade de sobrevivência.

Segundo dados do IBGE, em 2019, a porcentagem de lares brasileiros chefiados por mulheres chegou a 48%. Isso significa que quase metade dos lares do país é sustentado no todo ou na maior parte por uma mulher. No entanto, quando esta vai ao mercado de trabalho encontra algumas barreiras.

Estudos mostram que conciliar trabalho e maternidade ainda é um desafio. O próprio ato da gravidez não é bem visto por alguns empregadores e colegas de trabalho, que demonstram pouca confiança na capacidade da mulher retomar suas atividades com a mesma energia e dedicação depois do parto. Afinal, as atividades domésticas e de cuidado com o filho ainda são prioritariamente femininas.

Talvez seja por isso que, segundo pesquisa do site Trocando Fraldas, três em cada sete mulheres sintam medo de engravidar e serem demitidas. Esse medo é corroborado pelas estatísticas. Estudo da Fundação Getulio Vargas com duzentas cinquenta mil mulheres mostra que 50% delas foi demitida até dois anos depois de cumprir licença-maternidade.

Existe uma maioria silenciosa de mulheres que precisa levar sozinha o sustento de suas casas e famílias e a formação dos futuros jovens. Esses jovens que hoje são criados por elas serão os que precisam num futuro assumir empregos, gerar renda e contribuir para a prosperidade do país.

A questão da maternidade é a questão da continuidade de nossa espécie. É, portanto, um problema de todos: mães, famílias, empresas, sociedade, mas de nenhum desses entes isolados. As mães têm um papel fundamental na criação e cuidado dos filhos. Elas precisam contar com o apoio mais inteligente e esclarecido e com a flexibilidade dos empregadores.

Os processos de evolução de nossa sociedade resultaram no surgimento de uma nova estrutura familiar no país, e deve seguir-se uma mudança cultural equivalente nas organizações, permitindo às mães criar seus filhos com mais qualidade, sem cair no paternalismo utópico, mas provendo apoio para que trabalhem e exerçam a maternidade com equilíbrio.